Hoje ao acordar a primeira coisa que fiz, foi ligar o pc e vir para o blog. Fui despertada por um pesadelo que na minha infância, não me deixou marcas físicas, mas na moral, pessoal enfim, me deixou um trauma.
Vejo tantas pessoas que falam da sua infância com tanto entusiasmo, com tantas lembranças boas. Enquanto a mim prefiro esquecer, não gosto de recortar por vários motivos; além de uma aparência bizarra o que era motivo de chacota para meus "colegas" de escola, minhas roupas também incomodava. E não é que eu andava na beca não, a gente era muito pobre e usava o que tinha, reaproveitava de doações e dos irmãos mais velhos.
Eu sofri bullying na minha infância, e tudo começou na 1° série, eu não entendia porque aquela menina me perseguia, porque minha presença tão insignificante a incomodava tanto? Ou será que ela conseguia ver o medo, o pânico que me causava é só o fazia por prazer e pura diversão?
Eu chegava a não querer ir a escola por que tinha medo de apanhar na entrada e não poder voltar pra casa, eu tinha medo de ir para o recreio então ficava na sala com fome esperando todos voltarem, isso depois de um dia que ela me perseguiu com a prima dela com um tamanco nas mãos pelo pátio da escola. Eu tinha medo na hora da saída eu tinha a certeza que ela viria atrás de mim, então procurava todos os dias fazer caminhos alternativos. Eu nunca fui muito boa de memoria, fui criada muito pressa dentro de casa e em uma dessas rotas eu me perdi e tive que pedir ajuda pra voltar pra casa.
A gente vê nos noticiários casos como o de Wellington de Realengo, em que entrou na escola em que foi aluno um dia e matou 12 crianças e feriu mais 12 e depois se matou. Vários casos deste tipo acontece nos Estados Unidos e em outros. Algumas crianças chegam a se suicidar para que pare de ser perseguida. Para algumas pessoas é fácil dizer o porque de não contarmos aos nossos pais ou algum familiar. Pra quem sofre bullying não é fácil, o medo se torna constante e você passa a achar que tudo que faz ou fala será motivo pra você apanhar, então passamos a desconfiar de todos e nos trancamos em nosso mundinho e nos perguntamos pra quê viver? que significância tem a nossa existência?
Meus pais não eram muito de conversar e quando os fazia era sempre na base da ignorância, talvez tenha sido um dos motivos de "eu" não falar nada, nunca deixava transparecer que não tava tudo bem...deus sabe o esforço danado que eu fazia para aparentar. Mas a minha irmã foi diferente ela também sofreu bullying de um garoto e não teve como esconder, ele batia nela todos os dias no horário da saída do colégio. Ela voltava com as canelas cheias de calos e roxa, não esconderia nem se quisesse. Meu pai teve que tomar alguma atitude.
Pra fugir um pouco da minha angustia e da prisão que eu mesma criei em mim, pedi que minha mãe me matricular-se nas aulas de karatê, e não era pra aprender a me defender, quem sofre bullying jamais pensa uma coisa dessas, era só pra ocupar a minha mente e não pensar tanto no dia seguinte em que eu teria que ir para escola e fugir daquela garota.
Eu poderia ter tido um futuro diferente, eu poderia ter feito uma faculdade, eu poderia ter ido bem melhor na escola, poderia até ser a melhor da turma como fui na pré- escola. Mas você não pensa em outra coisa, mal dá pra se concentrar nos estudos, por esse motivo meu rendimento caiu muito e minha mãe me tirou o que fazia me desligar do mundo e da minha vida sem graça, achando que esse era o motivo ( ela acha até hoje).
Então eu me cobrei estudar mais, pra que tivesse aquilo de volta, chegava a ficar com dor de cabeça de tanto que me esforçava, foi ai que me viciei em café. Hoje sou depende e tomo praticamente uma garrafa por dia. E essa atitude me causou uma bela de uma gastrite,que tem como amenizar mas não tem cura. E se um dia eu morrer de doenças naturais, pode ser que será um cancer de estomago. Em uma de minhas crises a médica que acompanhou meu caso me disse isso.
O bullying é um trauma que a pessoa leva pra vida toda, quando se tenta esquecer ou acha que esqueceu você é surpreendido com um pesadelo com o agressor ( como eu hoje), ou corre o risco de esbarrar com ele na rua ( já aconteceu comigo). Se a vítima não tiver uma boa estrutura familiar, que conheça "amigos" de verdade, ou ela faz uma loucura como fez as vítimas que eu citei acima, ou se mata. Mas uma coisa é certa sua vida nunca mais será a mesma.
Eu não sei como eu farei para conversar com meus filhos a respeito disso, o mundo de hoje tá cheio de violência que cercam e ameaçam nossas crianças. Além do bullying tem os abusos sexuais. Peço que deus me oriente o melhor a fazer, mas uma coisa eu tenho certeza que irei fazer. Vou tentar ser amiga, compreensiva e conversar o máximo que poder com eles, porque se meus pais os fizesse no passado como fazem hoje eu talvez teria um passado diferente e teria orgulho e prazer de relembrar.
No link abaixo, vejam a história de uma menina inglesa que optou por fazer uma cirurgia em que o procedimento exigiu que ossos da perna fossem quebrados e mantidos separados com o uso de pinos. Tudo isso pra que fosse aceita.
http://visaoregional.com.br/2011/12/06/alvo-de-bullying-jovem-inglesa-opta-por-cirurgia-radical-para-alongar-as-pernas/
Neste outro link a história de Wellington Menezes o atirador de Realengo.
http://extra.globo.com/casos-de-policia/realengo-conheca-em-detalhes-quem-era-como-vivia-wellington-menezes-de-oliveira-1539375.html
Elaine Sousa.
